Fernando Perlatto*

Ainda que pequena em termos de tamanho – já que decidiu abandonar a literatura em meados dos anos 1980 –, embora abissal no que diz respeito à sua grandiosidade lírica, a obra de Raduan Nassar estava a merecer uma reedição bem cuidada, que fizesse jus ao que ela representa para a literatura. A publicação neste ano pela Companhia das Letras de um volume contendo seus dois monumentos líricos, Lavoura Arcaica e Um Copo de Cólera, que vieram à tona, respectivamente, em 1975 e 1978, e mais seus contos – reunidos no livro Menina a Caminho e textos inéditos, contidos em “Safrinha”, além de um ensaio de título “A corrente do esforço humano” – é de enorme importância. E, registre-se, vem lançado ainda em melhor hora, uma vez que Raduan foi laureado neste ano com o prestigioso “Prêmio Camões”, cujos organizadores, em suas justificativas, ressaltaram, com total justeza, “a extraordinária qualidade de sua linguagem e da força poética da sua prosa”.

As palavras de Lavoura Arcaica parecem todas, absolutamente todas, escolhidas com a exatidão necessária para que combinem força com sensibilidade, viço com afeto, potência com delicadeza. Lavoura Arcaica é uma explosão da prosa poética, uma obra que deveria constar no panteão das coisas mais belas e, ao mesmo tempo, mais duras já escritas na literatura brasileira. A narrativa é seca, contida, mas rasga em um lirismo pujante a estimular a releitura permanente de uma obra que faz com que poesia e prosa se articulem, combinem e se ajustem na sua mais plena potência.

Como destacado na própria nota do autor ao final do livro, Lavora Arcaica parte da parábola do filho pródigo, invertendo-a. O filho no caso é o narrador André, o “filho desgarrado”, “o epilético, o possuído, o tomado”, que abandona a “catedral” familiar desestruturando o mundo organizado sob a autoridade paterna. Desde a cena inicial do romance, com a chegada do irmão mais velho Pedro a um quarto de pensão para levar o rebento fugido de volta à casa da família – trazendo metaforicamente em seu abraço a força poderosa da família –, os conflitos entre autoridade e liberdade, entre tradição e desobediência, entre equilíbrio e perversão, entre imposição e rebeldia se fazem presentes e irão retornar, a partir de situações diversas, na narrativa em primeira pessoa de André; narrativa esta convulsionada, atropelada, agônica, quase beirando o desespero e o colapso.

André é o narrador-protagonista, que vive e observa, mas quem se faz presente, como um espectro, a assombrar todo o livro, é o patriarca da família, Iohána. A lembrança de seus sermões, proferidos a partir da cabeceira da mesa de jantar, onde todos os parentes da casa se reúnem para as refeições, se configura como um dos eixos estruturantes da narrativa, pois são os sermões que dão o tom, a régua e o compasso da força da tradição arcaica, com seus valores de moderação e autodomínio, que pesam como uma tonelada sobre toda a família, em especial sobre André. O tema central dos sermões é a paciência; Iohána sustenta seus discursos em torno de uma elegia da “obediência absoluta à soberania incontestável do tempo”, “o maior tesouro de que um homem pode dispor”. Para o patriarca, “não se profana impunemente ao tempo a substância que só ele pode empregar nas transformações”. A paciência, diz Iohána, “há de ser a primeira lei desta casa”. Contra “o mundo das paixões”, “mundo do desequilíbrio”, deve-se “esticar o arame das nossas cercas”. Os apaixonados devem se controlar, se disciplinar, “afastando dos olhos a poeira ruiva que lhes turva a vista”.

André, “o filho torto, a ovelha negra que ninguém confessa, o vagabundo irremediável da família”, aparece precisamente como a antítese deste mundo do controle, da paciência e do tempo domesticado defendido pelo patriarca. O que é interessante perceber é que ainda que esta tensão entre estas duas visões de mundo ganhe sua plena manifestação dramática nos conflitos entre André e Iohána, ela não se resume a estes dois personagens, mas se manifesta em toda a família, podendo ser atestada na própria organização dos lugares à mesa na hora das refeições e dos sermões:

o pai à cabeceira; a sua direita, por ordem de idade, vinha primeiro Pedro, seguido de Rosa, Zuleika e Huda; à sua esquerda, vinha a mãe, em seguida eu, Ana, e Lula, o caçula. O galho da direita era um desenvolvimento espontâneo do tronco, desde as raízes; já o da esquerda trazia o estigma de uma cicatriz, como se a mãe, que era por onde começava o segundo galho fosse uma anomalia, uma protuberância mórbida, um enxerto junto ao tronco talvez funesto, pela carga de afeto; podia-se quem sabe dizer que a distribuição dos lugares na mesa (eram caprichos do tempo) definia as duas linhas da família (p.158-9).

Raduan mostra, portanto, de que maneira a própria disposição dos lugares da mesa organizava as “duas linhas da família”: sentados à direita do patriarca, como um “desenvolvimento espontâneo” do tronco paterno, estavam aqueles que devotavam o respeito à tradição, que obedeciam à autoridade, que se submetiam passivamente ao ritmo cadenciado e amansado do tempo; à esquerda, no “segundo galho”, se encontravam os tortos, os gauches, os inquietos, os impacientes, os desajustados. O elemento fulcral desta divisão é o afeto da mãe, que parece ter “contaminado” o lado “podre” da família, composto por André, “o filho arredio, o eterno convalescente, o filho sobre o qual pesa na família a suspeita de ser um fruto diferente”; por Ana, que, como o irmão, “trazia a peste no corpo”; e pelo caçula, Lula, que também traz em si a chama da insubordinação de André e que tem os mesmos “primitivos olhos de Ana”. O afeto maternal é o elemento mal quisto, o feitiço malsão do pecado, o disparador das paixões e da transgressão. Diz André: “se o pai, no seu gesto austero, quis fazer da casa um templo, a mãe, transbordando no seu afeto, só conseguiu fazer dela uma casa de perdição”.

André é internamente dilacerado pelo peso da paixão incestuosa pela irmã Ana – o Capítulo 20, em que ele suplica desesperadamente à irmã pela sua salvação, que se daria pela aceitação do amor entre eles, é de uma beleza ímpar (“se as flores vicejam nos charcos, dispensemos nós também o assentimento dos que não alcançam a geometria barroca do destino”) – e suas reflexões em fluxo arrebatado e perturbador escancaram estes estilhaços internos. Porém, se o seu discurso torrencial é delirante, beirando a loucura, ele é, ao mesmo tempo, dotado de uma coerência que, ainda que não ancorada na chave da razão estreita, mantém uma lógica que a retórica clara e ordenada do patriarca não dá conta de abarcar. No tenso diálogo que se estabelece entre Iohána e André, após o retorno deste à casa da família, a lógica da razão se inverte e a coerência aqui passa a ser a do revoltado, a do insurreto, a do transgressor, cuja aparente falta de sentido da retórica trinca e fratura o discurso autoritário do pai (“minha loucura era mais sábia que a sabedoria do pai”).

Quando o patriarca cobra ordem a André, o filho o contesta, dizendo que “toda ordem traz uma semente de desordem”. Quando o Iohána lhe ordena sanidade, André o contradiz afirmando que na saúde defendida pelo pai há “uma semente de enfermidade, como na minha doença existe uma poderosa semente de saúde”. As paixões, vistas aqui, nesta perspectiva, como respostas racionais aos delírios equivocados da razão ordenadora do mundo. Ao se contrapor à hipocrisia e ao cinismo do sermão do “faminto”, sempre proferido por Iohána nas reuniões familiares – que valoriza a espera, a contenção e a paciência –, André se coloca como uma voz, mesmo que torta e isolada, das vítimas, dos desprovidos, dos “desenganados sem remédio”, daqueles “que gritam de ardência, sede e solidão”, dos “que não são supérfluos nos seus gemidos”. Grita André: “impaciência também tem os seus direitos!”.

Ainda que, ao final deste diálogo, André sucumba, se curvando e se submetendo aos ditames do patriarca – pois, ao fim e ao cabo, como se vislumbra no capítulo do seu grito desesperado pelo amor de Ana, ele deseja “com urgência” o seu “lugar na mesa da família” –, suas palavras e sua postura do desertor, do marginal, do insubordinado, já lançaram as sementes da inquietação, que acabam por frutificar também em Lula, o irmão mais moço. Não à toa, Lula diz a André: “Não aguento mais esta prisão, não aguento mais os sermões do pai, nem o trabalho que me dão, nem a vigilância do Pedro em cima do que faço, quero ser dono dos meus próprios passos”. Pode-se pensar, nesse sentido, que a insatisfação de André com a ordem, seu desagrado com a autoridade, seu incômodo com o status quo, representado pelo patriarca e seus sermões, mesmo quando derrotados, mesmo quando controlados, acabam por abrir espaços, frestas, caminhos, germinando o fruto para as contestações das gerações futuras. A ordem, a autoridade e o status quo, como resposta, resistem a este processo, inclusive, se necessário, se valendo da violência bruta, como se evidencia no trágico desenlace do romance. Mas, a semente da insubordinação está, definitivamente, lançada, semeando a revolta contra a bruta imposição da tradição.

A narrativa de Um Copo de Cólera não tem a mesma força poética e a mesma carga dramática de Lavoura Arcaica, até mesmo pelo fato de o registro ser diferente. Estamos a falar de dois mundos distintos. Um Copo de Cólera é um romance bem mais curto, com capítulos menores, quase um conto. Tudo se passa em um espaço reduzido e em um tempo conciso, sucinto, concentrado, basicamente em torno da tensa relação de dois personagens, a jornalista e o seu companheiro, o dono de um sítio localizado em um lugar isolado. O que impressiona aqui é a complexidade dos dois personagens principais. Tanto o proprietário da casa, quanto a mulher que o visita, são figuras repletas de nuances, de idas e vindas, de modulações; “ele” e “ela” alternam, como em um jogo bem estruturado, mas ao mesmo tempo disforme, razão e emoção, ponderação e paixão, força e fragilidade, arrogância e vulnerabilidade, controle e explosão. A complexidade interna dos personagens se revela na complexidade da própria relação entre eles que mistura embaralha sentimentos vários, como paixão, amor, excitação, raiva, humilhação, submissão, violência e ternura, e que é atravessada, de cima abaixo, por um jogo complexo de aproximação e distanciamento, atração e aversão, sedução e repulsa.

O episódio disparador do tenso diálogo do casal se dá quando o dono do sítio percebe um rombo na “cerca-viva” da casa, provocado por “malditas saúvas filhas da puta”. Seu súbito acesso fúria – como se sua mente fosse um copo que ao encher até a borda, transborda em forma de cólera –, e o subsequente “esporro” dado na jornalista e em seus empregados, Dona Mariana e seu Antônio, que beira as raias do patético, serve como gatilho para que Raduan Nassar traga à tona, de forma às vezes explícita, mas, na maior parte das vezes, implícita, uma série de questões, que transcendem a mera discussão entre o casal. Em meio a ofensas e xingamentos vários, o que está em jogo aqui – assim como em Lavoura Arcaica, embora em uma chave diversa – é um embate entre razão e paixão, entre controle e indignação. Porém, no caso de Um Copo de Cólera, mais especificamente, a contraposição entre os dois polos razão-controle e paixão-indignação não se faz de forma tão evidente como em Lavoura Arcaica, no embate entre Iohána e André. No casal de Um Copo de Cólera há, durante toda a narrativa, mais zonas cinzentas, mais gradações, mais modulações, onde as particularidades de cada um destes polos não permanecem adscritas a cada um dos personagens, circulando permanentemente entre eles.

Outro território opaco na relação do casal diz respeito à dimensão entre os polos autoritarismo-rebeldia. Ainda que o homem possa, a princípio, ser visto como o lado autoritário – e de fato o é –, sendo, inclusive, chamado de “fascista” pela mulher, sobretudo pela sua retórica violenta, sarcástica e machista, pelo incômodo manifesto com a postura altiva e briosa da companheira, por seu discurso pejorativo em relação ao povo como submisso a toda autoridade e como “massa de manobra”, pela forma grosseira e imperiosa como profere suas sentenças, as frases por ele formuladas buscam a todo o momento do diálogo problematizar a hipocrisia da “afetada rebeldia” da jornalista e o cinismo de sua concepção “democrática” de mundo; embora defenda retoricamente “a gente do povo” e critique o regime ditatorial, ela se portaria, segundo ele, de modo submisso às ideias formuladas por terceiros e, por trás de sua “arrogante racionalidade”, não pensaria de forma própria, se entregando “lascivamente aos mitos do momento”. Os antagonismos aqui, em certo sentido, se invertem, pois o autoritário, neste caso, se converte em rebelde, uma vez que é ele quem pensa livremente, o iconoclasta que tem seus “próprios tribunais”, que não se curva às tradições e que não se submete às “sombras exotéricas”, aos “ídolos” e aos “fantasmas” (“tenho colhão, sua pilantra, não reconheço poder algum”), ou mesmo a um suposto discurso em nome do “povo” ou realizado pelo “povo”, que, na verdade, seria, segundo ele, a mera reprodução da retórica daqueles que o dominam; ao passo que a rebelde, ainda que proferindo palavras de ordem contra a repressão, se comportaria como um “impassível ventríloquo”, assumindo passivamente ideias alheias e “papagueando” discursos e defendendo um novo sistema que, ao final, resultaria em uma ordem tão autoritária quanto aquela que ela pretensamente desejava combater.

Tanto Lavoura Arcaica, quanto Um Copo de Cólera, publicadas nos anos 1970, podem ser lidas como obras críticas ao regime militar então vigente, por estarem ancoradas na problematização aos discursos e posturas autoritárias, presentes em diferentes personagens, em especial, em Iohána. Porém, ainda que esta interpretação seja possível, ela é simplória, não sendo suficiente para abarcar os múltiplos aspectos que atravessam estes livros. Estamos, nos dois livros, a falar de obras mais nuançadas, menos fechadas a interpretações cerradas, mais sugestivas do que conclusivas. É mais interessante, nesse sentido, lê-las não como libelos disso ou daquilo, mas como romances que escancaram, a partir de prismas diversos e de uma potência lírica avassaladora, os conflitos, as paixões, as tensões e as complexidades dos seres humanos em aspectos vários. De um modo ou de outro, estas obras escancaram aquilo que o dono do sítio diz de forma breve e precisa: somos todos seres humanos “portadores das mais escrotas contradições”; e é destas contradições que emergem as possibilidades de submissão ou rompimento com os discursos e posturas autoritárias, venham elas de onde vierem.

Os contos reunidos em Obra Completa não têm a mesma força de Lavoura Arcaica e Um Copo de Cólera. Apesar de ser possível identificar vários pontos altos, em especial nos textos “Menina a caminho”, “Aí pelas três da tarde” e “O velho”, no geral, eles não possuem a mesma intensidade, vigor e complexidade dos livros do autor. A própria forma escolhida para as narrativas é mais tradicional, menos ousada, mais conservadora e não traz o mesmo ritmo, cadência e vibração que caracterizam a prosa de Raduan nos outros dois trabalhos; talvez, com as exceções do belo e forte conto “O ventre seco”, de Menina a Caminho – que tem ecos mais fortes de Um Copo de Cólera – e do intrigante “Monsenhor”, do livro Safrinha. De qualquer modo, a despeito destas ressalvas, é digna de nota a oportunidade de poder ler os contos de Raduan reunidos, pela primeira vez, de forma sistemática, e poder relacioná-los com seus dois trabalhos mais conhecidos.

Um dos pontos altos de Obra Completa é a publicação do ensaio “A corrente do esforço humano”, escrito por Raduan em 1981. Neste curto ensaio, o autor reflete sobre a visão pejorativa e desrespeitosa que se construiu historicamente no país sobre o povo brasileiro – como “um povo indolente, lasso de costumes, de pouca inventividade”, em decorrência “de uma mitologia racial e de uma mitologia dos trópicos” – e critica a importação e a adesão acrítica a “tudo que viesse de fora, do estrangeiro, da Europa”: “bom era o produto importado, bom era o homem estrangeiro (europeu); ruim era o produto nacional, ruim era o povo brasileiro”. Haveria uma aceitação cândida da Europa como referência e uma adesão sem maiores questionamentos à noção de “progresso”, desvalorizando-se tudo o que fosse realizado no Brasil.

Apesar da objeção à importação indiscriminada de ideias vindas “de fora” e da desvalorização do que é produzido no Brasil – que faz ecos às criticas do chamado pensamento “pós-colonial” –, Raduan, ainda que sem desenvolver de forma mais sistemática, avança em uma reflexão aguda e sofisticada sobre a circulação de ideias entre países “centrais” e “periféricos”: mantendo a vigilância crítica contra a postura colonialista, para Raduan não se trata simplesmente de denunciar tudo o que vem do exterior, devendo-se, antes, pensar, na “absorção do que interessaria à suposta comunidade brasileira e a que tem legitimamente ‘direito’, seja à reflexão, à pesquisa às conquistas técnicas (já que certas opções não teriam retorno) realizadas na Europa”. “Afinal”, destaca Raduan, “descartáveis ou não, as ideias são universais, no sentido de que sua produção dependeu da ‘periferia’, dos ‘pequenos’, de onde o acervo cultural, pelo menos, não ser patrimônio só da ‘matriz’, dos ‘grandes’, pertencendo antes à corrente do esforço humano, marcado por tantos erros e alguns acertos, sempre comovente quando percebido no seu conjunto”. Dessa perspectiva, o ensaio de Raduan contribui para uma reflexão mais dialética sobre a circulação de ideias entre “centros” e “periferias”, evitando-se quer uma postura que se submeta de modo acrítico às ideias externas, quer um posicionamento que, simplesmente, rejeite as ideias universalistas como se fossem exclusivamente colonialistas, até mesmo pelo fato de que esta produção universal não é exclusiva da “matriz”, dos “grandes”, devendo muito à própria produção da “periferia”, dos “pequenos”.

A única objeção mais substantiva a se fazer a Obras Completas é o fato de ter se perdido a oportunidade de se publicarem análises de especialistas sobre a obra de Raduan Nassar, que pudessem contribuir para uma compreensão mais sofisticada de seus trabalhos, a exemplo da nova edição crítica de Raízes do Brasil, de Sergio Buarque de Holanda, organizada por Pedro Meira Monteiro e Lilia Schwarcz, também publicada pela Companhia das Letras, com ótimos textos introdutórios. Há ao final do livro, e isso já é de grande importância, uma seleção de textos críticos, traduções e adaptações sobre a obra de Raduan, organizada por Elfi Kürten Fernske, mas, seria interessante, para além destas indicações, haver alguns textos mais analíticos, que procurassem situar com maior clareza a importância dos livros e contos ora compilados. Para além do fato de a obra de Raduan ainda não ter a fortuna crítica que merece – sendo importante destacar, como um das importantes exceções, os Cadernos de Literatura Brasileira, organizados pelo Instituto Moreira Salles, a ele dedicado, inclusive contendo uma rara entrevista do autor –, há que se ressaltar que alguns de seus trabalhos transcenderam a literatura com as adaptações para o cinema de Um Copo de Cólera (Aloisio Abranches, 1999) e do extraordinário Lavoura Arcaica (Luiz Fernando Carvalho, 2001), configurando todo um imaginário sobre o trabalho de Raduan, que ainda merece uma reflexão mais cuidadosa. Espera-se que estas Obras Completas possam servir de estímulo para que os escritos do autor – em especial, seus dois monumentos líricos – possam ser mais bem conhecidos e reconhecidos com o devido significado que sua obra tem para a literatura.

* Fernando Perlatto é um dos Editores da Revista Escuta.

** Crédito da imagem: Eduardo Simões / Divulgação <http://og.infg.com.br/in/19400969-671-3b4/FT1086A/420/20160530-152814.jpg&gt;. Acesso em: 30 nov. 2016.