Hernandez Vivan Eichenberger*
O povo está faminto de saber, e agradece o pedacinho de pão do espírito que partilho com ele honestamente
Heine[1]
É preciso dizer que A paixão da igualdade: uma genealogia do indivíduo moral na França (Relicário, 2021) de Vinicius de Figueiredo é um livro excelente. A obra elabora e reconstitui o surgimento da noção de igualdade no pensamento francês. Para isso volta-se tanto a uma análise detalhada dos textos – Descartes, Pascal, Voltaire, Diderot e Rousseau, apenas para mencionar alguns – quanto à discussão de elementos históricos que podem iluminar a gênese das ideias. Além disso, as fontes não se limitam às filosóficas e históricas: há boas e competentes análises de obras de arte literárias e visuais que comparecem não meramente como ilustração de ideias já esboçadas teoricamente, mas sim na condição de observações argumentativas centrais. Adicionalmente e como se não bastasse, o livro é escrito em um estilo fluente e nada modorrento: o leitor é impelido adiante para saber qual o capítulo seguinte no drama da igualdade. Disso tudo resulta a dificuldade em resenhar essa obra: há uma grande e legítima tentação em salientar seus vários méritos, deixar-se levar pelo êxtase da leitura e, talvez, não fazer a devida justiça a livro tão instigante – a saber: justamente em dialogar criticamente com ele.
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