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mês

fevereiro 2021

[Escuta Resenha] George Orwell, a escrita e a política

Fernando Perlatto*

O mercado editorial vive uma verdadeira “febre Orwell”. Motivadas pelo fato de sua obra ter entrado este ano em domínio público e, por isso, não precisarem mais desembolsar recursos vultuosos para lançarem os livros do escritor, diversas editoras têm publicado edições de seus trabalhos. Mas a “febre Orwell” não se explica somente por isso. Ela se justifica, sobretudo, pelo fato dos seus escritos – em especial 1984 e A fazenda dos animais (para utilizar a tradução de Paulo Henriques Brito, na nova edição da Companhia das Letras) – terem muito a dizer sobre os tempos atuais marcados pelo avanço do autoritarismo.

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Reino Unido, os motoristas de Uber e a precarização do trabalho

Sarah de Mattos Oliveira*

O Reino Unido se uniu a alguns de seus vizinhos europeus, como Alemanha, Espanha, França e Itália, para garantir aos motoristas da plataforma digital Uber o status de trabalhadores, reconhecendo a eles certos direitos. No berço da primeira Revolução Industrial, a respectiva Suprema Corte determinou que tais motoristas não são autônomos.

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O veneno necessário: o STF e a prisão de Daniel Silveira

Jorge Chaloub*

Abandonemos as ilusões de normalidade. Já estamos há algum tempo no terreno da exceção, naturalizada em meio às ruínas da ordem de 1988. Seja por decisões oportunísticas ou pelo protagonismo de atores de trajetórias claramente autoritárias, há hoje uma inegável naturalização de práticas antidemocráticas e um desprezo amplo pelas instituições vigentes.  Não vivemos, por certo, uma ditadura explícita, como a de 1964, mas há um evidente processo de desdemocratização em curso. Qualquer análise da prisão de Daniel Silveira que não leve em consideração esse cenário dificilmente ultrapassará a repetição de platitudes sobre os direitos e garantias individuais. O vídeo do deputado é mais um momento de uma longa série de ataques e ameaças à ordem democrática pela coalizão bolsonarista, na qual Silveira se coloca entre os mais explicitamente fascistas.

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O direito ao esquecimento na sociedade da informação: entre Goffman e Orwell

Sarah de Mattos Oliveira*

Com placar de 9 votos contra e 1 a favor, encerrou-se no terceiro dia, em 11/02/2021, a votação acerca do direito ao esquecimento no Supremo Tribunal Federal. O caso concreto diz respeito a ação ajuizada pela família de Aída Curi, assassinada no ano de 1958, no Rio de Janeiro. O crime, que reverberou de forma intensa devido ao seu cunho violento – a jovem foi lançada da cobertura de um edifício no bairro de Copacabana; foi reconstituído muitos anos depois, em 2004, em episódio do programa “Linha Direta”, da Rede Globo. Inconformada com a decisão da veiculação midiática do crime tantos anos depois da ocorrência do fato, a família da vítima pleiteou indenizações e o reconhecimento do direito ao esquecimento do ocorrido, para que o fato não fosse mais noticiado.

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Torto Arado, etnografia e exercício de alteridade

Marcella Araujo*

Li recentemente “Torto arado”, de Itamar Vieira Junior, publicado pela editora Todavia, em 2019. São muitas as qualidades humanísticas, literárias e políticas do livro, reconhecidas por prêmios importantes, como o LeYa, em 2018, e o Jabuti, na categoria Romance Literário, em 2020. De modo resumido, a história narra a vida de trabalhadores da fazenda Água Negra, na Chapada Diamantina, vida de corpos negros que labutam sete dias da semana e cujos músculos enrijecem com a dureza da terra e a pele envelhece curtida pelo sol. Como socióloga do urbano e das casas, o tema da “morada” me interessa muito, mas este texto não trata desse assunto. Procuro levantar alguns pontos relevantes sobre sensibilidade etnográfica, leitura e crítica do mundo, dos quais Itamar Vieira Junior trata em um episódio do podcast QuatroCincoUm MHz, da revista dos livros homônima.

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LUCAS PENTEADO, O PRIMEIRO VIDA LOKA DOS BRODERES E O IMAGINÁRIO BRASILEIRO

Matheus Vital de Oliveira Mendes*[1]

Hoje, domingo, dia sete de fevereiro, acordo com a notícia de que o participante mais humano do grande projeto midiático do Big Brother Brasil 21 saiu, por alvedrio, da casa mais “badalada” do país e da casa em que hoje se concentram os maiores privilégios de que a população brasileira, assolada por uma pandemia que erodiu os laços sociais, sente falta (como comida, folga, festa, afeto, encontros, ou seja, vida normal). Apesar disso tudo, um dos participantes decidiu sair, deixando para trás o sonho do 1,5 milhões de reais e a vida utópica daquele lugar. Guardadas as devidas proporções, o BBB é uma utopia, porque é um não lugar, está fora de qualquer topos. É uma casa que não existe em lugar nenhum e faz questão de mostrar isso em sua decoração grotesca e patética que nenhuma casa real, com muita probabilidade, possui em nosso país. Quando se olha para aquela decoração, sabe-se que estamos olhando para a casa dos broderes e sabe-se, também, que aquele lugar não é real.

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A rotina em meio à catástrofe: notas sobre a eleição de Arthur Lira

Jorge Chaloub*

A influência do Governo Federal e a vitória de candidatos habilidosos na política interna do parlamento são a regra nas eleições para a presidência da Câmara dos Deputados[1]. Em tempos excepcionais, entretanto, eventos corriqueiros ganham sentidos diversos e seguir a rotina se torna uma adesão tácita ao status quo. Os deputados que continuaram normalmente suas rotinas parlamentares nos idos de abril de 1964 sem dúvida conferiram normalidade ao golpe. O contexto atual é diverso e não temos um marco tão explícito de ruptura democrático como naquele momento. Não resta dúvida, contudo, que a eleição de Arthur Lira é mais um capítulo da cumplicidade das elites políticas brasileiras com o autoritarismo.

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